sábado, 9 de julho de 2011

10 mitos sobre o cérebro

por Shanna Freeman - traduzido por HowStuffWorks Brasil

Depois de milhares de anos de estudo e tratamento de cada aspecto dele, ainda há muitas facetas do cérebro que permanecem um mistério
© Henrik Jonsson / iStockphoto
Depois de milhares de anos de estudo e tratamento de cada aspecto dele, ainda há muitas facetas do cérebro que permanecem um mistério
O cérebro é um dos mais incríveis órgãos do corpo humano. Ele controla nosso sistema nervoso central, mantendo-nos andando, falando, respirando e pensando. O cérebro é também incrivelmente complexo, sendo composto de cerca de 100 bilhões de neurônios. Há tanta coisa acontecendo no cérebro que existem vários campos diferentes da medicina e da ciência devotados a tratá-lo e a estudá-lo, incluindo a neurologia, que trata distúrbios físicos do cérebro; a psicologia, que inclui o estudo dos processos comportamentais e mentais; e a psiquiatria, que trata doenças mentais e distúrbios. Alguns aspectos de cada um tendem a se sobrepor, e outros campos se cruzam dentro do estudo do cérebro também.
Essas disciplinas estão aí de alguma forma desde os tempos antigos, por isso você poderia pensar que até o momento já deveríamos saber tudo o que há para saber sobre o cérebro. Nada poderia ir além da verdade. Depois de milhares de anos de estudo e tratamento de cada aspecto dele, ainda há muitas facetas do cérebro que permanecem um mistério. E porque o cérebro é tão complexo, tendemos a simplificar a informação sobre como ele funciona para torná-lo mais compreensível.
Ambas essas coisas colocadas juntas resultaram em muitos mitos sobre o cérebro. A maioria não está totalmente fora - nós apenas não ouvimos a história toda. Vamos dar uma olhada nos 10 mitos que têm circulado sobre o cérebro, começando com sua cor.
10. Seu cérebro é cinza
O cérebro é verde, vermelho, preto e cinza
© Mark Evans / iStockphoto
O cérebro é verde, vermelho, preto e cinza
Você já parou para pensar na cor do seu cérebro? Talvez não, a menos que você trabalhe na área médica. Temos todas as cores do arco-íris em nossos corpos na forma de sangue, tecido, osso e outros líquidos. Mas você deve ter visto cérebros preservados em vidros na sala de aula ou na TV. Na maioria das vezes, esses cérebros são de uma coloração branca, cinza, verde ou amarelada. Na verdade, o cérebro vivo e pulsante que reside no seu crânio não é apenas de um insosso e frio cinza. É também branco, preto e vermelho.
Como muitos mitos sobre o cérebro, este tem um pouco de verdade, porque muito do cérebro é cinza. Às vezes, o cérebro todo é referido como massa cinzenta. O famoso detetive Hercule Poirot, dos livros de mistério da escritora Agatha Christie, diz com frequência que está usando suas "pequenas células cinzas". A massa cinzenta existe em cada uma das várias partes do cérebro (assim como na medula); ela consiste de diferentes tipos de células, como os neurônios. Contudo, o cérebro também contém massa branca, que inclui as fibras nervosas que conectam a massa cinzenta.
O componente negro é chamado de substantia nigra, que ó o latim para (você adivinhou!) "substância preta". Ela é preta por causa da neuromelanina, um tipo especializado do mesmo pigmento que colore pele e cabelos, e é uma parte do gânglio basal. Finalmente, nós temos o vermelho - graças aos muitos vasos sanguíneos no cérebro. Então, por que os cérebros preservados têm aparência fria do giz em vez de esponjosa e colorida? Reclame com os fixadores - como o formaldeído - que mantêm o cérebro preservado.
Da cor para o som. O próximo mito pode fazer você repensar suas escolhas musicais.
9. Ouvir Mozart o torna mais inteligente
Estudos não comprovaram o mito de que ouvir Mozart torna as pessoas mais inteligentes
HultonArchive / iStockphoto
Estudos não comprovaram o mito de que ouvir Mozart torna as pessoas mais inteligentes
Você não se sente culto ao sintonizar a estação de música clássica no rádio ou na internet e ouvir uma ópera ou uma sinfonia de um grande compositor como Mozart? Baby Einstein, uma empresa que faz DVDs, vídeos e outros produtos para bebês incorporando arte, música e poesia clássica, é uma franquia de 1 milhão de dólares. Pais compram os produtos porque acreditam que a exposição à grande arte (como os DVDs e CDs Baby Mozart) pode ser bom para o desenvolvimento cognitivo de seus filhos. Há até CDs de música clássica criados para ser tocados durante a gravidez, para o feto em desenvolvimento. A ideia de que ouvir música clássica pode aumentar sua capacidade cerebral se tornou tão popular  que foi apelidada de "O efeito Mozart". Então como esse mito começou?
Nos anos 1950, um médico de ouvido, garganta e nariz chamado Albert Tomatis começou a tendência, alegando que o uso da música de Mozart foi um sucesso para ajudar pessoas com distúrbios de fala e de audição. Nos anos 90, 36 estudantes  em um estudo da Universidade da Califórnia em Irvine ouviram 10 minutos de uma sonata de Mozart antes de fazerem um teste de QI. De acordo com Gordon Shaw, o psicólogo encarregado do estudo, a pontuação dos estudantes subiu em torno de oito pontos. O efeito Mozart acabava de nascer. 
Um músico chamado Dan Campbell registrou a frase e criou uma linha de livros e CDs baseados no conceito, e Estados como a Geórgia, a Flórida e o Tennessee separaram dinheiro para música clássica para bebês e outras crianças pequenas. Campbell e outros foram mais longe, afirmando que ouvir Mozart pode até melhorar a saúde das pessoas.
Contudo, o estudo da UC Irvine original foi controverso na comunidade científica. Frances Rauscher, pesquisador envolvido no estudo, declarou que eles nunca afirmaram que ouvir Mozart tornava as pessoas mais inteligentes; apenas que aumentava o desempenho em certas tarefas espaço-temporais. Outros cientistas foram incapazes de reproduzir os resultados originais, e não há atualmente nenhuma informação científica para provar que ouvir Mozart, ou qualquer música clássica, faz alguém ficar mais esperto. Rauscher até disse que o dinheiro gasto por aqueles Estados seria de mais utilidade em programas de música - há algumas evidências que mostram que aprender um instrumento melhora a concentração, a auto-confiança e a coordenação.
Mozart certamente não pode lhe fazer mal, e você até pode gostar dele se você tentar, mas não conseguirá ficar mais inteligente.
8. Seu cérebro ganha rugas quando você aprende algo
Nós nascemos, vivemos e morremos com a mesma quantidade de rugas no cérebro
© phil morley / iStockphoto
Nós nascemos, vivemos e morremos com a mesma quantidade de rugas no cérebro
Quando você pensa em como nosso cérebro se parece, provavelmente imagina dois lobos de massa cinzenta arredondada cobertos por "rugas". À medida que os humanos evoluíram como espécie, nossos cérebros cresceram para acomodar todas as futuras funções que nos diferenciam dos outros animais. Mas para manter o cérebro compacto o suficiente para caber no crânio proporcional ao resto do tamanho do nosso corpo, o cérebro dobrou-se enquanto crescia. Se nós desdobrarmos todas as cadeias de montanhas e cavidades, o cérebro seria do tamanho de uma fronha. As montanhas são chamadas giros, e as cavidades são chamadas sulcos. Vários desses giros e sulcos têm até nomes, e há variações de como exatamente eles se parecem de uma pessoa para outra.
Nós não começamos com cérebros enrugados, contudo; um feto em seu desenvolvimento tem um cérebro pequeno e liso. À medida em que o feto cresce, seus neurônios também crescem e migram para diferentes áreas do cérebro, criando os sulcos e os giros. Quando alcança 40 semanas, seu cérebro é tão enrugado quanto o de um adulto (menor, é claro). Por isso não desenvolvemos novas rugas enquanto aprendemos. As rugas com as quais nascemos são as rugas com as quais vivemos e morremos - assumindo que nossos cérebros permaneçam saudáveis.
Nossos cérebros mudam, sim, quando aprendemos - não só na forma de sulcos e giros adicionais. Esse fenômeno é conhecido como plasticidade do cérebro. Ao estudarem mudanças nos cérebros de animais como ratos enquanto aprendiam tarefas, pesquisadores descobriram que as sinapses (as conexões entre os neurônios) e as células sanguíneas que suportam os neurônios crescem e aumentam em número. Alguns acreditam que nós conseguimos novos neurônios quando fazemos novas memórias, mas isso ainda não foi provado em cérebros de mamíferos como o nosso.
Se você já teve a sensação de que havia mensagens escondidas em comerciais, séries de TV ou filmes, o próximo mito deve interessá-lo.
7. Você pode aprender através de mensagens subliminares
O conceito de mensagens subliminares alimenta nossa suspeita sobre o que o governo, as grandes corporações e a imprensa estão realmente tentando nos dizer. Uma mensagem subliminar (significando sob o "limen", ou nosso limite de percepção consciente) é uma mensagem embutida dentro das imagens ou de sons para penetrar nosso subconsciente e influenciar nosso comportamento. A primeira pessoa a cunhar o termo foi James Vicary, um pesquisador de mercado. Em 1957, Vicary declarou que ele inseriu mensagens dentro de um filme que estava sendo exibido em New Jersey. As mensagens, que piscavam por 1/3000 de um segundo, diziam aos espectadores para beber Coca-Cola e comer pipoca.
De acordo com Vicary, as vendas da Coca-Cola no cinema aumentaram cerca de 18%, e as de pipoca, mais de 57%, provando que suas mensagens subliminares funcionavam. Livros publicados no final dos anos 50 e começo dos 70 mostravam como os anunciantes poderiam usar técnicas como a de Vicary para convencer os consumidores a comprar seus produtos. Alguns comerciais de rádio e TV incluíram mensagens subliminares, mas muitas redes e associações profissionais as baniram. Em 1974, a FCC baniu por completo o uso de publicidade subliminar.
Mas as mensagens funcionavam? Acontece que Vicary na verdade mentiu sobre os resultados de seu estudo. Estudos subsequentes, incluindo um que piscava a mensagem "Telefone agora" durante a transmissão de uma estação de TV canadense, não teve efeito sobre os telespectadores. O infame julgamento do Judas Priest nos anos 90, em que as famílias de dois jovens que cometeram suicídio alegavam que uma canção da banda dizia aos garotos para fazê-lo, terminou com o juiz declarando que não havia evidência científica em seu favor. Ainda assim, algumas pessoas afirmam que a música, bem como anúncios, contêm mensagens escondidas. 
Por isso, escutar aquelas fitas de auto-ajuda enquanto você dorme provavelmente não vai machucá-lo, mas também não vão ajudá-lo a parar de fumar.
Quando se trata do cérebro humano versus o cérebro de outros animais, tamanho importa? Descubra no mito da próxima página.
6. O cérebro humano é o maior
Muitos animais podem usar seu cérebro para fazer algumas coisas que os humanos não podem, como encontrar formas criativas para solucionar problemas, mostrar auto-consciência, mostrar empatia por outros e aprender como usar ferramentas, Mas embora os cientistas não concordem com uma definição única do que torna uma pessoa inteligente, eles geralmente concordam que os humanos são as mais inteligentes criaturas na Terra. Na nossa sociedade "maior é melhor", então, essa deve ser a razão para os humanos terem o maior cérebro de todos os animais, porque nós somos os mais inteligentes. Bem, não exatamente.
O cérebro de um adulto mediano pesa cerca de 1,3 kg. O golfinho - um animal muito inteligente - também tem um cérebro que pesa cerca de 1,3 kg em média. Mas a baleia cachalote, que não é considerada tão inteligente quanto o golfinho, tem um cérebro que pesa 7,8 kg. No lado menor da balança, o cachorro beagle tem um cérebro que pesa 72 g, e o do orangotango tem apenas 370g. Tanto o cachorro quanto o orangotango são animais bem inteligentes, mas eles têm cérebros pequenos. Um pássaro como o papagaio tem um cérebro que pesa menos do que 1 grama.
Você deve ter notado alguma importância em todas essas comparações. O corpo de um golfinho médio pesa cerca de 158,8 kg, enquanto uma cachalote pode chegar a 13 toneladas. Em geral, quanto maior o animal, maior o crânio, e, consequentemente, maior o cérebro. O beagle é um cachorro razoavelmente pequeno,  com cerca de 11 kg no máximo - razão pela qual seu cérebro é tão pequeno. A relação entre o tamanho do cérebro e a inteligência não é sobre o peso do cérebro; é sobre a relação do peso do cérebro com o peso de todo o corpo. Para humanos, essa relação é de 1 para 50. Para a maioria dos outros mamíferos, é de 1 para 80, e para pássaros, de 1 para 220. O cérebro pesa mais em um humano do que em outros animais.
Inteligência também tem a ver com os diferentes componentes do cérebro. Os mamíferos têm córtexes cerebrais muito grandes, ao contrário dos pássaros, peixes ou répteis. O cerebelo nos mamíferos hospeda os hemisférios cerebrais, que são responsáveis por funções mais altas, como memória, comunicação e pensamento. Humanos têm o maior córtex cerebral entre os mamíferos, em relação ao tamanho de seus cérebros.
Cabeças sobre os pescoços: vamos dar uma olhada num mito terrível na próxima página.
5. O cérebro ainda funciona depois de uma decapitação
Quanto tempo o cérebro reage depois de termos a cabeça decepada?
© Linda Bucklin / iStockphoto
Quanto tempo o cérebro reage depois de termos a cabeça decepada?
Em um momento na história, a decapitação era um dos métodos preferidos de execução, em parte graças à guilhotina. Embora muitos países que executam criminosos tenham acabado com este método, ele ainda é usado por certos governos, terroristas e outros. Não há nada mais final do que arrancar a cabeça de alguém. A guilhotina surgiu devido ao desejo de uma morte rápida e relativamente humana. Mas quão rápida ela é? Se sua cabeça fosse cortada fora, você ainda seria capaz de ver ou movê-la, mesmo que por alguns segundos?
Esse conceito apareceu pela primeira vez durante a revolução Francesa, período em que a guilhotina foi criada. Em julho de 1793, uma mulher chamada Charlotte Corday foi executada pela guilhotina pelo assassinato de Jean-Paul Marat, jornalista radical, político e revolucionário. Marat era adorado por suas ideias, e a massa que esperava a guilhotina estava ansiosa para ver Corday pagar. Depois que a lâmina desceu e a cabeça de Corday caiu, um dos executores a pegou e deu um tapa em sua bochecha. De acordo com testemunhas, os olhos de Corday viraram e olharam para o homem, e seu rosto mudou para uma expressão de indignação. Depois desse incidente, pessoas executadas pela guilhotina durante a Revolução eram instadas a piscar na sequência, e testemunhas afirmaram que a piscada ocorria por até 30 segundos.
Outro conto frequentemente contado de demonstração de consciência seguindo a degola data de 1905. O médico francês Gabriel Beaurieux testemunhou a degola de um homem chamado Languille. Ele escreveu que imediatamente após a decapitação, "as pálpebras e os lábios... moveram-se em contrações rítmicas irregulares por cerca de cinco ou seis segundos". Beaurieux chamou o nome de Languille e disse que as pálpebras dele "abriram-se devagar, sem qualquer contração espasmódica" e que "suas pupilas se focaram" [fonte: Kershaw]. Isso aconteceu uma segunda vez, mas na terceira vez que Beaurieux chamou por Languille, não obteve resposta.
Essas histórias parecem dar credibilidade à ideia de que é possível para alguém permanecer consciente, mesmo que por alguns segundos, depois de ser decapitado. Contudo, os médicos mais modernos acreditam que as reações descritas  acima são, na verdade, movimentos reflexos dos músculos, em vez de movimento consciente e deliberado. Separado do coração (e, por consequência, do oxigênio), o cérebro imediatamente entra em coma e começa a morrer. De acordo com Harold Hillman, a consciência é "provavelmente perdida entre 2 e 3 segundos, devidos à rápida queda do bombeamento do sangue intracraniano [fonte: New Scientist].
Por isso, embora não seja inteiramente impossível para alguém ainda estar consciente depois de ter a cabeça cortada, não é provável. Hillman também aponta que a assim chamada guilhotina indolor é qualquer coisa menos isso. Ele declara que "a morte ocorre devido à separação do cérebro e da medula espinhal, depois da transecção dos tecidos que a cercam. Isso causa dor aguda e possivelmente severa". Essa é um das razões pelas quais a guilhotina, e a decapitação em geral, não é mais um método de execução aceito em muitos países com pena capital.
Esta, porém, não é a única forma de perder a cabeça. Ela pode ser danificada além do reparo. Vamos dar uma olhada na próxima página em quanto tempo um dano cerebral pode durar.
4.Lesões no cérebro são sempre permanentes
Lesão cerebral é algo extremamente assustador. Para algo tão misterioso e maravilhoso, o cérebro pode, na verdade, ser muito frágil e suscetível a lesões múltiplas. O dano no cérebro pode ser causado por uma infecção ou um acidente, e significa essencialmente a morte das células do cérebro. Para muitas pessoas, a mera ideia de dano cerebral conjura imagens de pessoas em estados vegetativos persistentes, ou, no mínimo, de invalidez física ou mental permanente.
Quanto tempo dura o dano cerebral? Depende do local e do tamanho da lesão
annedde / iStockphoto
Quanto tempo dura o dano cerebral? Depende do local e do tamanho da lesão
 
Mas esse nem sempre é o caso. Há muitos diferentes tipos de dano cerebral, e exatamente como eles afetarão alguém depende muito da sua localização e do quão grave eles são. Um dano leve no cérebro, como uma concussão, geralmente ocorre quando o cérebro salta dentro do crânio, resultando em sangramento e laceração. O cérebro pode se recuperar de machucados pequenos incrivelmente bem; a vasta maioria das pessoas que experimentam uma lesão leve no cérebro não experimenta invalidez permanente.
Na outra ponta do espectro, uma lesão cerebral grave significa que o cérebro sofreu danos extensos. Isso às vezes exige uma cirurgia para remover coágulos ou aliviar a pressão intracraniana. Para quase todos os pacientes que sofrem danos cerebrais graves, o resultado é dano permanente e irreversível.
E aqueles que ficam no meio? Algumas pessoas com dano cerebral experimentam invalidez permanente, mas podem recuperar-se parcialmente de suas lesões. Se os neurônios estão danificados ou perdidos, eles não podem crescer novamente - mas as sinapses, ou as conexões entre os neurônios, podem. Essencialmente, o cérebro cria novas trilhas entre os neurônios. Além disso, áreas do cérebro não originalmente associadas com algumas funções podem assumir o controle delas e permitir que o paciente reaprenda como fazer as coisas. Lembra-se do fenômeno da plasticidade do cérebro mencionado no mito sobre as rugas cerebrais? É assim que pacientes de derrames, por exemplo, podem recuperar habilidades de fala e motora através de terapia.
A coisa importante a se lembrar é que ainda há muitas coisas desconhecidas sobre o cérebro. Quando uma pessoa é diagnostica com lesão no cérebro, nem sempre é possível para os médicos saber exatamente quão bem alguém será capaz de se recuperar do dano. Pacientes surpreendem os médicos sempre e excedem as expectativas do que são capazes de fazer dias, meses e até anos depois. Nem todo dano cerebral é permanente.
Falando de dano cerebral, no próximo mito, vamos olhar os efeitos das drogas em nosso cérebro.
3. Drogas fazem buracos no cérebro

Nem toda droga do mundo é capaz de fazer buracos no cérebro
FotografiaBasica / iStockphoto
Nem toda droga do mundo é capaz de fazer buracos no cérebro
Exatamente como os diferentes tipos de drogas afetam o cérebro é um assunto bem controverso. Algumas pessoas alegam que apenas o uso de drogas mais graves pode ter qualquer efeito duradouro, enquanto outros acreditam que a primeira vez que você usa uma droga, está provocando um dano de longo prazo. Um estudo recente afirma que usar drogas como maconha apenas causa perdas pequenas de memória, enquanto outro firma que o uso pesado de maconha pode encolher partes do cérebro permanentemente. Quando se trata de usar drogas como cocaína ou ecstasy, algumas pessoas até acreditam que você pode, na verdade, fazer buracos no seu cérebro.
Na verdade, a única coisa que pode de fato fazer um buraco no seu cérebro é um trauma físico. Pesquisadores alegam, sim, que as drogas podem causar mudanças de curto e longo prazo no cérebro. Por exemplo, o uso da droga pode baixar o impacto de neurotransmissores (químicos naturais usados para comunicar sinais no cérebro) como a dopamina, motivo pelo qual os viciados precisam de mais e mais da droga para atingir a mesma sensação. Além disso, mudanças nos níveis dos neurotransmissores podem resultar em problemas com funções neurológicas. Se isso é ou não reversível é algo para debate.
Por outro lado, um estudo publicado na revista "New Scientist" de agosto de 2008 mostra que o uso prolongado de algumas drogas na verdade provoca o crescimento de certas estruturas no cérebro, resultando em uma mudança permanente. Eles dizem que é por isso que é tão difícil mudar o comportamento dos viciados.
Mas embora o júri ainda esteja decidindo sobre como exatamente as drogas podem afetar o cérebro no longo prazo, nós podemos ter razoável certeza de uma coisa: nenhuma droga faz buracos no cérebro.
A seguir, vamos ver o que o álcool faz no nosso cérebro.
2. O álcool mata as células cerebrais

O álcool não mata as células do cérebro, mas danifica as terminações nervosas
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O álcool não mata as células do cérebro, mas danifica as terminações nervosas
Apenas a observação de uma pessoa bêbada é suficiente para nos convencer de que o álcool afeta diretamente o cérebro. Pessoas que bebem até ficar bêbadas acabam com a fala mole e capacidades motoras e de julgamento comprometidas, entre outros efeitos colaterais. Muitas delas sofrem de dor-de-cabeça, náusea e outros efeitos colaterais desagradáveis na sequência - em outras palavras, uma ressaca. Mas alguns poucos drinks no final de semana, ou mesmo uma sessão de bebedeira ocasional, são suficientes para matar as células do cérebro? E a bebedeira por farra ou a frequente ingestão de bebidas dos alcóolicos?
Nem tanto. Até em alcóolicos, o uso do álcool não resulta de fato em morte das células do cérebro. Ele pode, contudo, danificar as terminações nervosas, chamadas de dendritos. Isso resulta em problemas no transporte de mensagens entre os neurônios. A célula em si não é danificada, mas a forma como ela se comunica com outras é alterada. De acordo com pesquisadores como Roberta J. Pentney, professora de anatomia e biologia celular da Universidade de Buffalo, esse dano é reversível na maioria das vezes.
Alcoólicos desenvolvem um distúrbio neurológico chamado síndrome de Wernicke-Korsakoff, que pode resultar em perda de neurônios em algumas partes do cérebro. Essa síndrome também causa problemas de memória, confusão, paralisia dos olhos, falta de coordenação muscular e amnésia. E pode levar à morte. Contudo, o distúrbio não é causado pelo álcool em si. Ele é o resultado da deficiência de tiamina, uma vitamina B essencial. Não apenas os alcóolicos graves são frequentemente malnutridos, como o consumo extremo de álcool pode interferir na absorção da tiamina pelo corpo.
Por isso, embora o álcool não mate as células do cérebro, ele pode danificar seu cérebro se você beber em quantidades massivas.
Quanto do seu cérebro você já usou enquanto lia essa lista de dez mitos? O próximo e último mito para explicar tudo.
1. Você usa só 10% do cérebro
Usamos o nosso cérebro todo o tempo inteiro. Não existe o lance de usarmos só 10% do cérebro
© Mads Abildgaard / iStockphoto
Usamos o nosso cérebro todo o tempo inteiro. Não existe o lance de usarmos só 10% do cérebro
Com frequência nos dizem que usamos apenas 10% de nosso cérebro. Pessoas famosas como Albert Einstein e Margaret Mead teriam dito variações disso. Esse mito é provavelmente um dos mais conhecidos mitos sobre o cérebro, em parte porque tem sido publicado na mídia sempre. De onde veio isso? Muitas fontes apontam para um psicólogo americano do começo dos anos 1900 chamado William James, que disse que "uma pessoa comum raramente atinge senão uma pequena porção de seu potencial"  [fonte: AARP]. De algum modo, isso foi convertido no uso de apenas 10% do nosso cérebro.
À primeira vista, isso parece realmente enigmático. Por que teríamos o maior cérebro em proporção ao nosso corpo entre os animais (como discutido no sexto mito desta lista) se nós não usamos de fato todo ele? Muitas pessoas pularam na ideia, escrevendo livros e vendendo produtos que diziam aproveitar o poder dos outros 90%. Crentes nas habilidades psíquicas, como percepções extrassensoriais, usam isso como prova, alegando que pessoas com essas habilidades usavam o resto de seu cérebro.
Eis aqui uma coisa: isso não é realmente verdade. Além daqueles 100 bilhões de neurônios, o cérebro também está cheio de outros tipos de células que estão continuamente em uso. Podemos nos tornar incapazes por danificar apenas uma pequena área do cérebro, dependendo de sua localização, por isso não há como funcionarmos com apenas 10% de nosso cérebro em uso.
Imagens do cérebro mostraram que não importa o que estamos fazendo, nosso cérebro está sempre ativo. Algumas áreas são mais ativas que outras, mas a menos que tenhamos dano cerebral, não há uma parte do cérebro que não esteja funcionando. Aqui está um exemplo. Se você estiver sentado na mesa, comendo um sanduíche, você não está usando ativamente seu pé. Você está concentrado em levar o sanduíche à boca, mastigá-lo e engoli-lo. Mas isso não significa que seus pés não estejam funcionando - ainda há atividade neles, como fluxo sanguíneo, mesmo quando você não os está movendo.
Por isso não existe potencial extra escondido que você possa mexer, em termos do espaço no cérebro. Talvez em capacidade, mas isso é outra história.

Como funciona a memória humana

por Richard C. Mohs, Ph.D. - traduzido por HowStuffWorks Brasil

Quanto mais se sabe sobre a memória, melhor se compreende como melhorá-la. Neste artigo você terá uma visão geral básica de como sua memória funciona e de que maneira os efeitos do envelhecimento afetam sua capacidade de lembrar.
O primeiro choro de seu filho, o gosto dos biscoitos de polvilho da sua avó, o cheiro da brisa do oceano. São esse tipos de memórias que formam a experiência contínua de sua vida - elas oferecem uma percepção de personalidade. São elas que fazem você se sentir confortável com pessoas e lugares familiares, conectam seu passado com seu presente e oferecem uma estrutura para o futuro. De certa maneira, é nosso conjunto de memórias coletivas - nossa "memória" como um todo - que nos torna quem somos.






Neurologista examina a memória humada e o cérebro humano
Cientistas acreditam que a memória não está localizada em um local específico no cérebro porque ela é um processo que envolve todo o cérebro
A maioria das pessoas fala sobre a memória como se ela fosse parte de seu corpo. Mas a memória não existe da mesma forma que o corpo - não é algo que se pode tocar. É um conceito que se refere a um processo de lembranças.
No passado, muitos especialistas ficavam satisfeitos em descrever a memória como um tipo de pequeno gabinete de arquivo para pastas de memórias individuais em que as informações eram armazenadas. Outros relacionavam a memória a um supercomputador neural preso ao couro cabeludo humano. Porém, atualmente, os especialistas acreditam que a memória é muito mais complexa e difícil de se compreender - e que ela não está localizada em um determinado local do cérebro por ser um processo que ocorre em todo o cérebro.
Você se lembra do que comeu no café da manhã de hoje? Se a imagem de um grande prato de ovos fritos e bacon surgiu na sua mente, você não a pescou de algum corredor neural fora de rumo. Em vez disso, essa memória foi o resultado de um poder construtivo incrivelmente complexo (um poder que cada um de nós possui) que remontou impressões de memória dispersas a partir de um padrão de células distribuídas em todo o cérebro parecido com uma rede. Sua memória é realmente formada por um grupo de sistemas em que cada um tem um papel diferente na criação, no armazenamento e na lembrança dessas memórias. Quando o cérebro processa as informações normalmente, todos esses sistemas diferentes trabalham perfeitamente em conjunto para fornecer um pensamento coeso.
O que parece ser uma única memória é, na verdade, uma construção complexa. Se pensar em um objeto - digamos, uma caneta - o cérebro lembra do nome do objeto, seu formato, sua função, o som que faz quando desliza sobre o papel. Cada parte da memória do que é uma "caneta" vem de uma região diferente do cérebro. A imagem inteira dessa uma caneta é ativamente reconstruída pelo cérebro a partir de muitas áreas diferentes. Os neurologistas estão apenas começando a entender como as partes são remontadas em uma peça coerente.
Se você estiver andando de bicicleta, a memória de como operar a bicicleta surge a partir de um conjunto de células cerebrais. A memória de como ir de um lugar a outro vem de outro bloco, a memória de regras de segurança ao se andar de bicicleta vêm de outro e aquele sentimento de apreensão que se tem quando um carro faz uma curva perigosamente perto de você, vem de um outro bloco. Ainda assim, você nunca está consciente dessas experiências mentais separadas, nem que elas estão todas vindo de partes diferentes de seu cérebro porque elas trabalham harmoniosamente juntas. Na verdade, os especialistas nos dizem que não há uma distinção sólida entre como você lembra e como você pensa.
Isso não significa que os cientistas descobriram exatamente como o sistema funciona. Eles ainda não compreendem exatamente como você se lembra ou o que ocorre durante a lembrança. A pesquisa sobre como o cérebro organiza as memórias e onde essas memórias são adquiridas e armazenadas tem sido, por décadas, uma busca interminável entre os pesquisadores. Ainda assim, há informações suficientes para fazer algumas suposições. O processo da memória começa com a codificação, em seguida, passa para o armazenamento e, eventualmente, pela recuperação.
Na próxima seção, você irá aprender como a codificação funciona e qual é a atividade do cérebro envolvida na recuperação de uma memória. 
Para saber mais sobre os diversos aspectos da memória, consulte os links a seguir.

Codificação da memória
A codificação é o primeiro passo na criação da memória. É um fenômeno biológico, enraizado nos sentidos, que começa com a percepção. Considere, por exemplo, a memória da primeira pessoa pela qual você se apaixonou. Quando você conheceu essa pessoa, seu sistema visual provavelmente registrou as características físicas, como a cor dos olhos e dos cabelos. O sistema auditivo pode ter captado o som de sua risada. Você provavelmente observou o perfume. Você pode até ter sentido o toque de sua mão. Cada uma dessas sensações isoladas viajou para uma parte de seu cérebro chamada hipocampo, que integrou essas percepções conforme foram ocorrendo em uma única experiência - sua experiência com aquela determinada pessoa.


Os especialistas acreditam que o hipocampo, juntamente com outra parte do cérebro chamada de córtex frontal, é responsável por analisar essas diversas entradas sensoriais e decidir se vale a pena lembrar delas. Se valerem a pena, elas podem se tornar parte de sua memória de longo prazo. Conforme indicado anteriormente, essas diversas partículas de informação são, então, armazenadas em diferentes partes do cérebro. Contudo, ainda não se sabe como essas partículas de informação são identificadas e recuperadas depois para formar uma memória coesa.






A atividade cerebral humana envolve neurotransmissores e sinapses
O cérebro normal tem cerca de 100 trilhões de sinapses,
que são os pontos em que as células nervosas do
cérebro se conectam com outras células
Embora a memória comece com uma percepção, ela é codificada e armazenada utilizando o idioma da eletricidade e das reações químicas. Funciona da seguinte maneira: as células nervosas se conectam com outras em um ponto chamado sinapse. Toda a ação do cérebro ocorre nessas sinapses, em que pulsos elétricos que carregam mensagens atravessam espaços entre as células.
A descarga elétrica de um pulso entre os espaços dispara a liberação de mensageiros químicos chamados neurotransmissores. Esses neurotransmissores se espalham nos espaços entre as células, conectando-se às células próximas. Cada neurônio pode formar milhares de conexões como essa, fornecendo a um cérebro normal cerca de 100 trilhões de sinapses. As partes dos neurônios que recebem esses impulsos elétricos são chamadas de dendritos, pontas aplumadas dos neurônios que encostam nos neurônios próximos.
As conexões entre os neurônios não são estabelecidas de forma concreta, pois elas mudam o tempo todo. Os neurônios trabalham juntos, em rede, organizando-se em grupos que se especializam em diferentes tipos de processamento de informação. Conforme um neurônio envia sinais para outro, a sinapse entre os dois se torna mais forte. Quanto mais sinais enviados entre eles, mais forte fica a conexão. Assim, com cada nova experiência, o cérebro altera um pouco sua estrutura física. Na verdade, a forma como você utiliza seu cérebro ajuda a determinar como ele é organizado. É essa flexibilidade - que os cientistas chamam de plasticidade - que pode ajudar o cérebro a se reestruturar caso seja danificado.
Conforme você aprende e experimenta, o mundo e alterações que acontecem nas sinapses e nos dendritos, mais conexões são criadas em seu cérebro. O cérebro se organiza e se reorganiza em resposta às suas experiências, formando memórias disparadas pelos efeitos das entradas impulsionadas pela experiência, pela educação ou pelo treinamento.
Essas alterações são reforçadas com o uso, para que conforme você aprenda e pratique as novas informações, circuitos intrincados de conhecimento e memória sejam criados no cérebro. Se você tocar uma parte de uma música diversas vezes, por exemplo, o disparo repetido de determinadas células em uma determinada ordem em seu cérebro torna mais fácil repetir esse mesmo disparo posteriormente. Resultado: você toca a música cada vez melhor. Você poderá tocá-la mais rápido e com menos erros. Se praticá-la tempo suficiente, você a tocará perfeitamente. E se você parar de praticá-la por muitas semanas e depois tentar tocá-la novamente, poderá perceber que o resultado não é mais perfeito. Seu cérebro já começou a esquecer o que você algum dia já conheceu muito bem.
Para codificar apropriadamente uma memória, primeiro, você deve estar prestando atenção. Uma vez que não se pode prestar atenção a tudo o tempo todo, a maior parte do que você encontra todos os dias é simplesmente filtrada, e somente alguns estímulos passam para sua consciência. Se você se lembrasse de qualquer coisinha que já observou, sua memória ficaria cheia até mesmo antes de sair de casa de manhã. O que os cientistas não sabem ao certo é se os estímulos são selecionados durante o estágio da entrada sensorial ou somente após o cérebro processar seu significado. O que temos que saber é se a forma como você presta atenção às informações pode ser o fator mais importante em relação ao quanto daquela situação você se lembra.
A próxima seção oferece detalhes sobre como as informações são armazenadas na memória de curto prazo e na memória de longo prazo. 
Para saber mais sobre os diversos aspectos da memória, consulte os links a seguir.
Memória de curto e longo prazo
Quando uma memória é criada, ela deve ser armazenada (independente de quão breve seja). Muitos especialistas acham que há três maneiras de se armazenar memórias: primeiro no estágio sensorial, depois, na memória em curto prazo e, por último, na memória em longo prazo. Devido ao fato de não haver necessidade de manter tudo em nosso cérebro, os diferentes estágios da memória humana funcionam como um tipo de filtro que ajuda a nos proteger da enxurrada de informações com as quais somos confrontados diariamente.
A criação de uma memória começa com sua percepção: o registro de informações durante a percepção ocorre no breve estágio sensorial, que geralmente dura somente uma fração de segundo. É sua memória sensorial que permite que uma percepção como um padrão visual, um som ou um toque permaneçam por um breve momento após a estimulação haver terminado.
Após essa primeira centelha, a sensação é armazenada na memória de curto prazo. A memória de curto prazo tem uma capacidade um pouco limitada - ela pode manter sete itens, por não mais de 20 ou 30 segundos por vez. Você pode conseguir aumentar bastante essa capacidade utilizando diversas estratégias de memorização. Por exemplo, um número de dez dígitos como 8005840392 pode ser demais para sua memória de curto prazo manter. Mas, dividido em partes, como um número de telefone, 800-584-0392 pode ficar de verdade em sua memória de curto prazo tempo suficiente para você discar o telefone. Da mesma forma, repetindo o número para si mesmo, é possível manter o relógio da memória de curto prazo reinicializando.
Informações importantes são gradualmente transferidas de sua memória de curto prazo para sua memória de longo prazo. Quanto mais a informação for repetida ou utilizada, maior a probabilidade de ela acabar na memória de longo prazo, ou de ser "guardada". É por isso que estudar ajuda as pessoas a terem um melhor desempenho nas provas. Diferentemente das memórias sensoriais e de curto prazo, que são limitadas e se desfazem rapidamente, a memória de longo prazo pode armazenar quantidades ilimitadas de informações.
As pessoas tendem a armazenar mais facilmente assuntos dos quais já saibam alguma coisa, pois a informação tem mais significado para elas e pode ser mentalmente conectada a informações relacionadas que já estão armazenadas em sua memória de longo prazo. É por isso que alguém que tem uma memória média pode conseguir lembrar de muitas informações sobre um determinado assunto.
A maioria das pessoas pensam na memória de longo prazo ao pensar na "memória" em si, mas a maioria dos especialistas acredita que a informação precisa passar pelas memórias sensorial e de curto prazo antes de poder ser armazenada como uma memória de longo prazo. Para aprender como as informações saem da memória de longo prazo, consulte a próxima seção. Iremos explorar como as memórias são lembradas e o que acontece quando uma memória não pode ser recuperada - um fenômeno que você pode chamar de “esquecimento”. 
Para saber mais sobre os diversos aspectos da memória, consulte os links a seguir.
Recuperação da memória
Quando quer lembrar de algo, você recupera essa informação em um nível inconsciente, levando-a à sua mente consciente por sua vontade. Embora a maioria das pessoas pense que tem uma memória "boa" ou "ruim", na verdade, a maioria das pessoas são muito boas para lembrar determinados tipos de coisas, e não tão boas para lembrar outras. Se você tiver dificuldade em lembrar de algo, isso não é por culpa de todo o seu sistema de memória, mas sim de um componente ineficiente de uma parte de seu sistema de memória.
Vamos entender como você se lembra de onde colocou determinado objeto. Ao se deitar à noite, você deve registrar onde você o colocou: você deve prestar atenção no local em que o deixa, ou seja, você deve estar consciente de onde o está colocando, ou não poderá se lembrar de sua localização na manhã seguinte. Em seguida, essa informação é guardada, pronta para ser recuperada posteriormente.

Se o sistema estiver funcionando apropriadamente, ao acordar de manhã, você se lembrará exatamente de onde deixou esse objeto. Se você esquecer onde ele está, você pode não ter registrado claramente onde o colocou, ou pode não ter guardado a informação registrada, ou ainda você pode não conseguir recuperar a memória de forma precisa.
Portanto, se não quiser esquecer onde deixou determinado objeto, você terá que trabalhar para se certificar de que os três estágios do processo de lembrança estejam funcionando apropriadamente.
Se você esqueceu de algo, pode ser porque não tenha codificado com bastante eficiência, porque estava distraído no momento em que a codificação deveria estar acontecendo ou porque está tendo dificuldade em recuperar a informação.
Se você "esqueceu" onde colocou determinado objeto, pode nem ter realmente esquecido - em vez disso, a localização dele pode nunca ter chegado à sua memória. Por exemplo, você provavelmente diria que sabe como é uma nota de cinco reais, mas na maior parte das vezes em que viu uma, não codificou realmente sua aparência, então se tentasse descrevê-la, provavelmente não conseguiria.
Distrações que ocorrem enquanto se está tentando lembrar de algo podem realmente atrapalhar a codificação de memórias. Se você estiver tentando ler um relatório comercial no meio de um aeroporto cheio, você poderá pensar que está se lembrando do que leu, mas pode não tê-lo salvado eficientemente na memória.
Finalmente, você poderá esquecer porque está simplesmente tendo problemas para recuperar a memória. Se você já tentou se lembrar de algo alguma vez e não conseguiu, mas depois acabou lembrando, pode ser porque houve alguma incoerência entre as pistas de recuperação e a codificação da informação que estava procurando.
Conforme vamos envelhecendo, nossos problemas de memória tendem a aumentar. Na próxima seção, saberemos como o envelhecimento pode afetar a memória. 



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Efeitos do envelhecimento na memória
Você está em um evento comercial e vê um colega do outro lado da sala. Conforme ele anda em sua direção, você de repente percebe que não consegue se lembrar do nome dele. Você está simplesmente experimentando uma interrupção do processo de montagem da memória - uma interrupção que muitos de nós começamos a experimentar por volta dos 20 anos e que tende a piorar conforme nos aproximamos dos 50. Essa perda de função dependente da idade aparece em muitos animais no começo da maturidade sexual.






O cérebro humano deteriora com o envelhecimento e afeta a memória humana
O hipocampo, área essencial para a
memória, perde cerca de 20% de células nervosas até a pessoa chegar aos 80 anos
Suas sinapses são reforçadas e as células fazem mais conexões, que são mais fortes entre si. Mas, conforme você envelhece, essas sinapses começam a falhar, o que irá afetar a facilidade com a qual você pode recuperar memórias.
Os pesquisadores têm diversas teorias sobre o que está por trás dessa deterioração, mas a maioria suspeita que o envelhecimento causa uma perda de células enorme em uma pequena região na parte frontal do cérebro que leva a uma queda na produção de um neurotransmissor chamado acetilcolina. A acetilcolina é vital para o aprendizado e para a memória.
Além disso, algumas partes do cérebro, essenciais para a memória, são altamente vulneráveis ao envelhecimento. Uma delas, chamada de hipocampo, perde 5% de seus neurônios a cada década que passa - com uma perda total de 20% na época em que uma pessoa estiver com 80 anos. Além disso, o próprio cérebro encolhe e se torna menos eficiente conforme você vai envelhecendo.
É claro que outras coisas podem ocorrer com o cérebro que podem acelerar esse declínio. Você pode ter herdado alguns genes problemáticos, pode ter sido exposto a venenos ou ter bebido e fumado demais. Tudo isso acelera o declínio da memória.
Assim, você pode ver que, conforme envelhece, algumas alterações físicas no cérebro podem dificultar você de lembrar uma coisa de forma eficiente. A boa notícia é que isso não significa que a perda de memória seja inevitável. Ao mesmo tempo em que algumas capacidades diminuem com o envelhecimento, a memória geral permanece forte para a maioria das pessoas com cerca de 70 anos. Na verdade, uma pesquisa mostra que o idoso de 70 anos realiza determinados testes cognitivos tão bem quanto muitos jovens de 20 anos, e muitas pessoas com 60 e 70 anos têm uma pontuação significativamente melhor na inteligência verbal que as pessoas mais jovens.
Os estudos também mostraram que muitos dos problemas de memória experimentados por pessoas mais velhas podem ser diminuídos - ou até revertidos. Estudos com populações de asilos mostraram que os pacientes podiam ter significativas melhorias na memória quando recebiam prêmios e desafios. Os exercícios físicos e a estimulação mental também podem melhorar a função mental.
Estudos com animais sugerem que estimular o cérebro pode impedir que as células encolham e até aumentar o tamanho do cérebro em alguns casos. Estudos mostram que ratos que vivem em ambientes com diversos brinquedos e desafios têm camadas cerebrais externas com neurônios maiores e mais saudáveis. Animais submetidos a muitos exercícios mentais têm mais dendritos, o que permite que suas células se comuniquem entre si. A pesquisa mostrou que, conforme ficamos idosos, um ambiente estimulante encoraja o crescimento desses dendritos, ao passo que um ambiente maçante impede esse crescimento.
O ponto importante a ser lembrado é que, conforme envelhece, você pode não aprender nem lembrar tão rapidamente quanto quando estava na escola, mas provavelmente aprenderá e lembrará quase tão bem. Em muitos casos, o cérebro de uma pessoa mais velha pode ser menos eficiente, não devido a algum problema estrutural ou orgânico, mas simplesmente como resultado da falta de uso.
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Para Saber Mais:






SOBRE OS AUTORES: Richard C. Mohs, Ph.D., foi vice-presidente do conselho do Departamento de Psiquiatria da Mount Sinai School of Medicine e chefe associado da equipe de pesquisa no Bronx Veterans Affairs Medical Center. Autor ou co-autor de mais de 300 estudos científicos, o Dr. Mohs realizou diversos estudos de pesquisa sobre envelhecimento, mal de Alzheimer e funções cognitivas.
Carol Turkington é uma escritora free-lance que se especializou nas áreas de saúde e psicologia. Foi editora e escritora do Duke University Medical Center e da American Psychological Association, e tem mais de 40 livros de sua autoria, incluindo The Memory and Memory Disorders Sourcebook;The Encyclopedia of Memory and Memory Disorders; e The Brain Encyclopedia.

FONTE:  http://saude.hsw.uol.com.br/memoria-humana.htm/printable

sexta-feira, 8 de julho de 2011

ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL


Acidente vascular cerebral é o nome médico da doença que é conhecida popularmente como derrame. O acidente vascular cerebral ou acidente vascular encefálico ocorre quando há algum tipo de lesão nos vasos cerebrais ocasionando dano a partes do cérebro. Não se sabe bem a origem precisa da palavra derrame nem porque deixou de ser utilizada na prática médica, mas ainda o nome popular da doença e como ele é conhecido pelas pessoas. O nome acidente vascular cerebral, por outro lado, é totalmente inadequado e deveria ser abandonado por que um derrame é tudo menos um acidente.
Trata-se de doença com aparecimento súbito, mas com fatores de risco conhecidos sendo o principal deles a hipertensão arterial sistêmica mais conhecida como pressão alta. As conseqüências do derrame são muitas vezes para o resto da vida, como as deficiências motoras, com paralisia de partes do corpo principalmente braços e pernas.
O derrame já era conhecido desde a Grécia Antiga com o nome de apoplexia, palavra grega que significa “golpeado com violência”. No latim, a palavra apoplexia foi adaptada com o significado de “fulminado”. No século 16, na Inglaterra, a expressão que se usava era “stroke of God´s hands”, mostrando que nos tempos antigos o derrame era visto como uma doença causada pelos deuses sem possibilidade de tratamento pelos médicos. O nome em inglês “stroke” vem do verbo “strike” (derrubar) e significa “derrubado”, mostrando um dos efeitos da doença.
Mas, afinal, o que é o derrame?
O derrame é um tipo de doença cardiovascular chamado de doença cerebrovascular, que pode ser causada por vários fatores de riscos diferentes. Ela começa com uma alteração neurológica que acontece de repente ou que evolui rapidamente. A alteração neurológica pode ser variada de acordo com a região do cérebro que foi acometida.
O quadro mais conhecido é uma perda de força de um lado do corpo que pode incluir braços, pernas e face. Normalmente, como a musculatura do outro lado do rosto está normal, a rima da boca se desvia para o lado do rosto que não está paralisado. Esse quadro é descrito no exame neurológico como hemiplegia direita com desvio da rima bucal para a esquerda, por exemplo.
Dependendo da região do cérebro que foi comprometida, o quadro clínico muda. Um acidente vascular cerebral de tronco, por exemplo, pode deixar a pessoa imóvel para sempre. Outros podem levar a importantes alterações da sensibilidade.
Vamos conhecer os tipos de acidentes vascular cerebral, seus fatores de risco, sintomas e diagnóstico e as formas de tratamento existentes.

AVC isquêmico
Acidente Vascular Isquêmico pode ser causado por uma trombose de uma artéria cerebral de pequeno ou de grande calibre. A trombose em geral acontece na região da artéria que tem uma placa de aterosclerose. O acidente vascular cerebral isquêmico também pode ser causado por um êmbolo. Se a pessoa tiver uma placa de aterosclerose em uma das artérias carótidas, que são as artérias que levam o sangue oxigenado do coração para o cérebro, pode-se soltar um pedacinho da placa de ateroma que migra na circulação cerebral até que ele entupa um vaso. Os tecidos que receberiam o oxigênio por esse vaso morrem e essa parte do cérebro pára de funcionar. Dependendo do tamanho do êmbolo, pode ser uma artéria de pequeno ou grande calibre que fica obstruída.
Outro jeito de causar um acidente vascular isquêmico por êmbolo é quando, por exemplo, uma pessoa tem um infarto do miocárdio. O infarto do miocárdio provoca a morte de uma parte do músculo do coração que deixa de se contrair. O sangue parado perto dessa parede do coração que não se contrai pode formar um coágulo. Um dos segredos do sangue não se coagular é ele estar sempre em movimento. Um pedacinho de um coágulo formado na parede do coração pode migrar pela artéria carótida até entupir um vaso da circulação cerebral.






AVC isquêmico
©2008 ComoTudoFunciona
Imagem da esquerda mostra um AVC isquêmico visto pela tomografia de crânio: a área da lesão é a mais clara do lado esquerdo

Às vezes, o vaso da circulação cerebral que ficou obstruído é tão pequeno que nem se percebe qualquer alteração do exame neurológico. Às vezes, a pessoa apresenta alguma alteração neurológica que desaparece antes de 24 horas porque de algum modo o coágulo que se formou no cérebro se desfaz antes que algum tecido cerebral tenha realmente morrido. Esses casos são chamados de episódios isquêmicos transitórios e representam um aviso importante de que a pessoa deve se tratar.
AVC hemorrágico
O acidente vascular hemorrágico acontece quando algum vaso do cérebro se rompe e extravasa sangue para dentro do cérebro ou para dentro do liquor. O sistema nervoso central é composto por várias partes incluindo uma caixa de proteção - a caixa craniana, que tem a função de proteger o cérebro - e a coluna vertebral, que protege a medula óssea que também faz parte do sistema nervoso central.
Embaixo da estrutura óssea e envolvendo todo o sistema nervoso central ficam as meninges que são três: a mais externa se chama dura-máter, a intermediária se chama aracnóide e a mais interna se chama pia-máter. Entre as duas meninges mais internas, aracnóide e pia-máter há um espaço que fica completamente preenchido por um líqüido chamado de líqüido céfalo-raquidiano ou simplesmente liquor. No acidente vascular hemorrágico o sangue também pode vazar para dentro do liquor.
A causa de acidente vascular cerebral hemorrágico mais comum é a hipertensão arterial (pressão alta). A pressão alta pode alterar as pequenas artérias levando à formação de zonas de fraqueza nas suas paredes, que podem se romper. Quando essas artérias lesadas se rompem, extravasa sangue para dentro do cérebro. Esse sangue que extravasa forma um hematoma e aquela parte do cérebro deixa de receber sangue oxigenado e morre. Os pontos de fraqueza na parede dos vasos são chamados de microaneurismas, que são pequenas dilatações das artérias. Esses sangramentos costumam acontecer mais em algumas regiões do cérebro, na região dos chamados núcleos da base.
Quando a hemorragia acontece perto dos ventrículos (espaços formados pelas membranas que revestem o cérebro e que ficam cheios de liquor), pode haver sangramento dentro do liquor.






AVC hemorrágico
©2008 ComoTudoFunciona
A imagem do meio mostra AVC hemorrágico em tomografia do crânio: a área da lesão é a região com coloração mais densa e brilhante
Existem outras causas de acidente vascular hemorrágico. Às vezes uma pessoa pode nascer com umamalformação dos vasos dentro do cérebro. Quando essas malformações acontecem nas veias são chamadas de malformações venosas. Essas malformações podem acontecer nas artérias formando os aneurismas. Os aneurismas são defeitos que surgem nas artérias e que fazem com que suas paredes fiquem mais fracas. As artérias se dilatam e podem comprimir as regiões vizinhas ou se rompem acontecendo o sangramento. Esses casos são os mais graves com mortalidade muito alta mesmo com tratamento adequado.
Esse tipo de acidente vascular cerebral recebe o nome de hemorragia meníngea (subaracnóidea) e sempre há extravasamento de sangue no líquor.






Hemorragia meníngea
©2008 ComoTudoFunciona
Imagem da direita mostra Hemorragia meníngea em tomografia:imagem mais densa e brilhante dentro das cisternas cheias de líquor
A fraqueza na parede das artérias acontece sempre nos mesmos lugares. As artérias que irrigam o cérebro formam uma estrutura como um sistema de canais (polígono de Willis), que comunica as artérias do lado direito






Polígono de Willis
Polígono de Willis
do cérebro com as do lado esquerdo pelas artérias comunicantes anterior e posterior. Justamente na junção das comunicantes com as artérias é que acontecem com maior freqüência os aneurismas.
Nas pessoas que têm o polígono de Willis perfeito, uma isquemia (falta de sangue oxigenado) do lado direito do cérebro, pode, por exemplo, ser coberta pelas artérias do lado esquerdo. Nem todas as pessoas têm o polígono de Willis perfeito.
As imagens abaixo mostram dois aneurismas respectivamente da artéria comunicante posterior (mais comum) e da artéria comunicante anterior vistos a angiografia cerebral.






Aneurisma da artérias comunicante posterior
Aneurisma da artéria comunicante posterior






Aneurisma posterior
©2008 ComoTudoFunciona
Aneurisma da artéria comunicante anterior

Fatores de risco do AVC
Os fatores de risco para o acidente vascular cerebral são os mesmos envolvidos com as doenças cardiovasculares. Os principais são:
  • hipertensão,
  • tabagismo,
  • dislipidemia, e
  • diabetes
Entretanto, se esses fatores estão todos envolvidos com a doença isquêmica coronariana (infarto), para o derrame o peso da hipertensão é muito maior do que o dos outros fatores. Por isso, controlar a pressão alta é fundamental na prevenção do acidente vascular cerebral.
Doenças que aumentam o risco de sangramento também podem causar acidente vascular cerebral.É o caso, por exemplo, de uma deficiência de plaquetas. As plaquetas são parte importante do mecanismo da coagulação e a diminuição do seu número pode causar sangramento.
Alguns medicamentos anticoagulantes utilizados no tratamento do próprio acidente vascular cerebral isquêmico também podem aumentar o risco de acidente vascular hemorrágico. Além desses fatores há ainda um componente genético importante na determinação da pressão arterial, que por sua vez é o fator de risco mais importante para o derrame. 
Sintomas e diagnóstico do AVC
O quadro da alteração neurológica no acidente vascular cerebral é muito assustador e geralmente o paciente procura o pronto-socorro. A instalação do quadro neurológico costuma ser abrupta ou rapidamente progressiva instalando-se em poucas horas.
Os sintomas podem variar de acordo com a região do cérebro acometida:
  • hemiplegia (não mexer um dos lados do corpo),
  • hemiparesia (mexer parcialmente um dos lados do corpo, às vezes predominando em braços ou pernas),
  • alterações de sensibilidade,
  • afasia (perda da fala).
A freqüência de acidente vascular cerebral aumenta com a idade, sendo raro em pessoas jovens. O filme “O Escafandro e a Borboleta”, que recebeu quatro indicações ao Oscar em 2008, conta a história do editor de uma famosa revista de moda que, após um tipo muito particular de acidente vascular cerebral, só consegue mexer seu olho esquerdo. O personagem se recusa a entregar-se à doença, criando um mundo próprio com a sua imaginação e a sua memória e se comunicando com o mundo externo piscando o olho esquerdo.
Mas ao contrário do personagem do filme, a maioria das pessoas com seqüelas de acidente vascular cerebral fica muito deprimida após um AVC porque ele pode levar à perda total da independência. Outro ponto é que nem sempre o paciente conta com o suporte familiar ou financeiro que seria necessário. Adaptar uma casa para um paciente com derrame é caro e exige projeto especializado. O derrame ocorre com maior freqüência em famílias pobres que, justamente, têm menos possibilidade de fazer as reformas necessárias ou que às vezes moram em favelas onde essa adaptação é impossível. O paciente muitas vezes fica restrito à sua cama.
A irrigação do cérebro provém de duas origens:
  1. As carótidas são artérias que saem da aorta e levam sangue oxigenado para a porção anterior do cérebro, dando origem às artérias carótidas internas, cerebrais médias e cerebrais anteriores. Problemas nesse território costumam causar déficit motor ou sensitivo, dificuldade na articulação das palavras (disartria), déficit de linguagem, outras alterações da função nervosa superior como não reconhecimento de pessoas ou objetos e alterações da visão.
  2. O segundo sistema de irrigação do cérebro é o vértebro-basilar, que dá origem às artérias vertebral, basilar, cerebelares e cerebrais posteriores. Lesão nesse território pode causar também déficit motor ou déficit sensitivo, dificuldade na articulação das palavras (disartria) ou perda da fala (afasia), alterações visuais, alterações de coordenação e alterações de nervos cranianos localizados no tronco cerebral que podem levar à diplopia (enxergar duplo), ptose palpebral (queda da pálpebra fechando o olho), anisocoria (tamanho diferente das pupilas), paralisia de parte do rosto, movimentos rápidos dos olhos (nistagmo), perda da sensibilidade em partes do costo e vertigem (sensação de que você está rodando ou de que tudo está rodando em volta de você).
Quando há lesão do tronco cerebral, parte do sistema nervoso responsável pelos estados de sono e vigília e pelas funções de manutenção da vida, como respirar e comandar os batimentos cardíacos, pode ocorrer diminuição do nível de consciência ou coma.
Quando o paciente conta história de cefaléia muito intensa de início súbito e trata-se de adulto jovem entre os 20-30 anos, o diagnóstico mais provável é o de hemorragia meníngea. Junto com a cefaléia aparecem náuseas e vômitos, tonturas e sinais de irritação meníngea como, por exemplo, rigidez do pescoço quando se tenta curvar a cabeça do paciente em direção ao tronco. Junto com esse quadro podem aparecer também convulsões (ataques), perda de consciência e coma.
Nos casos mais graves pode haver comprometimento das funções vitais como respiração, função cardíaca, controle da temperatura corporal e morte. O quadro da hemorragia meníngea é muito grave.
Diagnóstico






Ressonância magnética
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Ressonância magnética: um dos
exames que diagnosticam o AVC
Para fazer o diagnóstico de acidente vascular cerebral basta um quadro clínico compatível confirmado pela história que o paciente conta e o exame neurológico. Para ter certeza e confirmar que parte do cérebro foi atingida o exame mais utilizado é a tomografia de crânio. Em alguns casos pode estar indicada a ressonância nuclear magnética.
O exame do líquor pode ser importante nos casos em que a tomografia de crânio é normal e a maior suspeita passa a ser de uma hemorragia meníngea (subaracnóidea). Nesses casos o líquor vem altamente hemorrágico (cheio de sangue) comprovando o sangramento.
Nos casos de hemorragia meníngea (subaracnóidea), a angiografia cerebral digital é ainda o exame mais importante para o diagnóstico de aneurismas cerebrais saculares, dando informações precisas quanto à sua localização, forma e tamanho. Nestes casos, o exame deve mostrar os quatro vasos cervicais que nutrem a circulação intracraniana, possibilitando o diagnóstico de aneurismas cerebrais múltiplos que ocorrem em aproximadamente 20% dos casos.
Além desses exames podem ser feitos outros exames para identificar a causa do derrame. Por exemplo, nos casos de êmbolo de origem cardíaca, é importante fazer um ecocardiograma para ver como o coração está funcionando, e um eletrocardiograma, para ver se há alguma arritmia. Além do infarto, na doença de Chagas e na fibrilação atrial, doenças do coração que fazem com que ele bata fora de ritmo (arritmia) podem levar à formação de êmbolos, podendo causar acidente vascular cerebral quando um êmbolo se desprega do coágulo e entope uma artéria do cérebro.
Seqüelas do AVC
O prognóstico do acidente vascular cerebral depende do tipo. O acidente vascular cerebral isquêmico é o que tem melhor prognóstico desde que não comprometa uma área muito grande do cérebro. O acidente vascular cerebral hemorrágico já é muito mais grave, e a hemorragia meníngea (subaracnóidea) é mais grave ainda, com risco de morte mesmo que o tratamento seja implantado de forma rápida e adequada.
É muito comum que o acidente vascular cerebral isquêmico se repita, deixando cada vez mais seqüelas. Uma parte considerável dos episódios pode evoluir com melhora importante após fisioterapia, com recuperação da força muscular, e de fonoaudiologia para, por exemplo, corrigir problemas associados à deglutição de alimentos. Esses problemas acontecem às vezes como seqüela do derrame, levando a episódios de aspiração de comida e saliva com aparecimento de pneumonias (o paciente desaprende como engolir alimentos e saliva).
Portanto, para prevenção das seqüelas é muito importante que haja reabilitação, ou seja fisioterapia, fonoaudiologia e terapia ocupacional no suporte ao paciente com derrame. A ausência de reabilitação pode levar a seqüelas permanentes. Nos casos mais graves ocorrem seqüelas mesmo que haja reabilitação, mas ela é sempre útil para minimizar as complicações.
Tratamento do AVC
O tratamento do acidente vascular cerebral inclui o controle dos fatores de risco, como a hipertensão arterial. Outro ponto é iniciar a anticoagulação. Controlar a hipertensão arterial é o principal tratamento preventivo para o acidente vascular cerebral. No indivíduo com um primeiro episódio de acidente vascular isquêmico, ou um episódio isquêmico transitório, estão indicados os antiagregantes plaquetários, medicamentos que inibem a agregação plaquetária que é um dos desencadeantes da coagulação.






Controle da hipertensão
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Controlar a hipertensão é essencial na prevenção do AVC

Os antiagregantes devem ser usados na prevenção de um novo episódio. O mais antigo de todos os medicamentos com ação antiagregante plaquetária é a aspirina. Mas hoje em dia, há várias outras opções como a ticlopidina, o dipiridamol e o clopidogrel. A escolha do medicamento mais adequado para cada indivíduo deve ser feita pelo médico.
Nos casos mais graves de episódios repetidos de acidentes vasculares cerebrais isquêmicos indica-se a anticoagulação com os dicumarínicos. Todos esses medicamentos não podem ser utilizados no acidente vascular cerebral hemorrágico por aumentar o risco de sangramentos.
No acidente vascular cerebral hemorrágico, o ponto mais importante do tratamento é o controle da pressão arterial elevada. Nas hemorragias meníngeas (subaracnóideas), deve-se identificar a posição do aneurisma e o tratamento é cirúrgico.
Assim como existe o tratamento agudo para o paciente com infarto utilizando-se agentes trombolíticos com o objetivo de dissolver o coágulo (estreptoquinase), desde que o paciente chegue ao centro que vai realizar o procedimento com menos de seis horas de dor, há possibilidade desse tipo de tratamento no acidente vascular cerebral.






Remoção de placa da artéria
Remoção de placa de gordura da artéria carótida é um dos tratamentos do AVC
Em alguns lugares do mundo, inclusive o Brasil, foram criadas as chamadas Stroke Units com o mesmo objetivo das Unidades Coronarianas. Essas unidades são especializadas no tratamento do acidente vascular cerebral, usando protocolos de condutas padronizados que envolvem a participação de equipe multiprofissional no tratamento e no cuidado do paciente. Outro aspecto de maior importância é a possibilidade de ação na fase aguda do acidente vascular cerebral isquêmico com medicamentos que dissolvem o trombo que provocou o derrame.
Além das Unidades Cerebrovasculares criou-se em várias cidades americanas e canadenses o “telestroke”, que permite que neurologistas à distância possam avaliar tomografias e indicar condutas aos médicos de plantão em unidades de emergência e de terapia intensiva que atendam pacientes com acidente vascular cerebral.

Todo paciente que apresente um acidente vascular cerebral deve ficar por um mínimo de 24 horasem observação para que seja possível avaliar se a doença está estacionada ou se está evoluindo para um quadro mais grave. Sempre que possível, os pacientes devem ser internados. Depois da fase aguda, os pacientes podem ser encaminhados para tratamento ambulatorial e para a reabilitação. 
AVC e preconceito
O acidente vascular cerebral é uma doença que assusta os pacientes e seus familiares porque muitas vezes a pessoa perde parte da consciência, da capacidade de se expressar e de ser autônoma.
Mesmo o profissional da saúde se deixa atingir pelas seqüelas do paciente. Existe um preconceito em relação à atenção médica e ao tratamento do paciente com acidente vascular cerebral, ou seja, o paciente é deixado sem tratamento por acreditar-se que não há nada a fazer. Com isso, não há investimento na reabilitação.
Na verdade, é uma fenômeno de transferência em que o profissional da saúde se vê da posição do paciente e não consegue suportar que alguma coisa semelhante aconteça com ele. O paciente com AVC perde o controle de si próprio, a independência, às vezes a própria lucidez. Freqüentemente, há perda do controle de funções autonômicas, como continência esfincteriana, necessitando de cuidados de enfermagem permanentes.
O acidente vascular cerebral foi por muito tempo considerado como uma doença sem tratamento. As unidades coronarianas foram criadas há muitas décadas e só nos últimos anos surgiram as “Stroke Units” especializadas no tratamento do derrame.
Nas últimas décadas o advento dos exames de imagem mais sofisticados e os novos tratamentos com antiagregantes plaquetários e anticoagulantes trouxeram uma nova perspectiva no tratamento e na prevenção dessa doença.

Para Saber Mais: