sexta-feira, 10 de junho de 2011

Caso do Paciente H.M.


Famoso paciente H.M., Henry Gustav Molaison. Esse homem perdeu totalmente a capacidade de guardar novas memórias, ficando para sempre preso ao passado, em consequência de uma cirurgia experimental. Mas, os estudos envolvendo H.M., permitiram que a ciência descobrisse boa parte do que sabe a respeito da memória.
H.M. era uma criança normal até que aos 9 anos sofreu uma queda enquanto andava de bicicleta. O forte traumatismo craniano que sofrera deixou como sequela as constantes crises epilépticas, intratáveis com o uso das medicações convencionais. Essas crises pioraram ao longo de tempo, até que 1953 ele foi encaminhado para o neurocirurgião William Beecher Scoville.
Após alguns exames Scoville descobriu que a origem das epilepsias de H.M. era no lobo temporal medial do telencéfalo e sugeriu que esses lobos fossem retirados bilateralmente em uma cirurgia. No dia 1 de setembro de 1953 a cirurgia foi realizada. Na cirurgia foram retirados seus hipocampos, giros parahipocampal, as amígdalas e o córtex entorrinal.
Depois da cirurgia o paciente H.M., que ficou curado da epilepsia, passou a sofrer de graves problemas de memória. Ele lembrava-se de tudo que ocorrera em sua vida até seis meses antes da cirurgia, no entanto ficou incapacitado de guardar novas informações como memória de longa duração.
A partir desse fato, os cientistas ficaram curiosos a respeito dos mecanismos de armazenamento de informações no nosso sistema nervoso e resolveram iniciar estudos com o paciente H.M. Esses estudos foram importantes no que diz respeito à localização exata de áreas particulares do cérebro que estão ligadas aos processos específicos da formação da memória.
Dessa forma iniciou-se uma série de muitos estudos com o paciente H.M., mais de 100 cientistas o estudaram por mais de 55 anos. Tinha-se então um laboratório vivo, no qual era possível realizar experimentos para testar a formação de memórias. Umas das pessoas que mais realizou testes no paciente H.M, foi a neurocientista dra. Brenda Milner, que mesmo após anos de acompanhamento precisava se apresentar a cada nova visita ao paciente, pois este já havia esquecido de quem era a neurocientista.
H.M. teve de uma hora para outra a sua vida transformada. Antes da cirurgia era uma pessoa, como qualquer outra, independente, capaz de tomar suas próprias decisões. Após a cirurgia, como não conseguia mais formar novas memórias passou a ser extremamente dependente das pessoas, uma vez que nem ao menos conseguiria lembrar seu endereço, caso mudasse de casa. Assim a vida de H.M. restringia-se quase totalmente a sua função de cobaia em experimentos neurocientíficos.
Certa vez o ganhador do prêmio Nobel de Medicina, Eric Kandel, falou a respeito da importância dos estudos realizados com o paciente H.M.:“permanece como um dos maiores marcos da história da neurociência moderna, e proporcionou a base do conhecimento para tudo que veio depois: o estudo da memória humana e seus distúrbios”.
Mesmo após a sua morte, H.M. não deixou de ser cobaia. Assim que morreu, em 2008, iniciou-se, na Universidade de San Diego, na Califórnia, a análise do seu encéfalo, com o consentimento do próprio H.M. Durante um processo que durou ao todo 53 horas, mais de 2500 amostras histológicas foram obtidas para que se fossem feitas análises mais minuciosas a respeito da “anatomia da memória”.


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