Na Síndrome da Negligência a pessoa perde a habilidade de dar atenção igual a duas partes do espaço. Pacientes com uma forma dessa síndrome chamada síndrome da negligência unilateral ignoram as informações provenientes do lado esquerdo ou direito do corpo e podem até esquecer de barbear uma parte do rosto ou de vestir esse lado do corpo, se perguntados porque o lado em questão está assim, eles irão responder que parece perfeitamente normal para eles. Quando pedido para desenhar um relógio, o sofredor dessa síndrome irá desenhar freqüentemente um círculo e colocar todos os números de um só lado (como na imagem acima). A Síndrome da Negligência geralmente é causada por um dano ao hemisfério do cérebro, como acontece em um derrame.
Hemibalismo são movimentos involuntários abruptos, frequentemente violentos, envolvem mais a musculatura proximal do que distal e predominam nos membros superiores. Normalmente o Hemibalismo e outros movimentos atetósicos são causados por lesão no núcleo Subtalâmico de Luys contralateral (normalmente são unilaterais) decorrentes de trauma ou infarto. (Na imagem a cima vemos a área afetada).
Em 1848, Phineas Gage, um jovem e zeloso capataz de apenas 25 anos sofreu um acidente e tem transformada por completo sua personalidade.
Em 1848, Phineas Gage era supervisor de construção de ferrovias da Portland & Burland Railroad. Impávido e dotado de um senso de responsabilidade incomum, o jovem e zeloso capataz – ele tinha apenas 25 anos de idade – reservava para si as tarefas mais perigosas. Poupando os seus subordinados das atividades que envolvessem sérios riscos, assumia pessoalmente a responsabilidade de explodir as rochas situadas no traçado da estrada de ferro.
Cranio e imagem de Phineas Gage, reconstituída a partir da máscara mortuária
Naquele fim de tarde, em Vermont, Estados Unidos, o jovem capataz protagonizou um acidente histórico, que permitiu à Ciência constatar que os danos ao córtex cerebral afetam a personalidade do indivíduo.
Uma carga de pólvora fora colocada pelo próprio supervisor na abertura de uma rocha. Então Gage empunhou uma barra de ferro de um metro de cumprimento e 2,5 centímetros de diâmetro para socar o orifício. Inadvertidamente, a barra resvalou na abertura do buraco. O atrito ocasionou uma fagulha, que fez a pólvora acender. Conforme esclarece R. M. E. Sabbatini, a explosão que se seguiu “projetou a barra, com 2.5 cm de diâmetro e mais de um metro de comprimento contra o seu crânio, a alta velocidade. A barra entrou pela bochecha esquerda, destruiu o olho, atravessou a parte frontal do cérebro, e saiu pelo topo do crânio, do outro lado. Gage perdeu a consciência imediatamente e começou a ter convulsões. Porém, ele recuperou a consciência momentos depois, e foi levado a médico local, Jonh Harlow que o socorreu. Incrivelmente, ele estava falando e podia caminhar. Ele perdeu muito sangue, mas depois de alguns problemas de infecção, ele não só sobreviveu à horrenda lesão, como também se recuperou bem, fisicamente.”
Como ficou Phineas Gage após o acidente
Todavia, o zeloso Gage anterior à explosão, “descrito como equilibrado, meticuloso e persistente quanto aos seus objetivos, além de profissional responsável e habilidoso”, conforme pondera Cristina Marta Del-Ben, simplesmente desapareceu. Em seu lugar, assomou, conforme concluiu o neurobiologista António Damásio, “uma pessoa impaciente, com baixo limiar à frustração, desrespeitoso com as outras pessoas, incapaz de adequar-se às normais sociais e de planejar o futuro. Não conseguiu estabelecer vínculos afetivos e sociais duradouros novamente ou fixar-se em empregos.”
Embora tenha milagrosamente sobrevivido à explosão, o capataz, que permanecera o resto da vida com a barra de ferro transfixada na face, tornou-se mesmo uma pessoa completamente diferente. Pouco tempo depois ao acidente – acresce Sabbatini – Phineas começou a ter mudanças surpreendentes na personalidade e no humor. “Ele tornou-se extravagante e anti-social, praguejador e mentiroso, com péssimas maneiras, e já não conseguia manter-se em um trabalho por muito tempo ou planejar o futuro.” O Phineas sobrevivente – pontuam William K. Purves, David Sadava e Gordon H. Orians – “era briguento, mal humorado, preguiçoso e irresponsável. Tornou-se impaciente e obstinado, passando a usar um linguajar rude nunca antes utilizado por ele.” “Phineas já não é mais Phineas”, diziam seus amigos.
Imagens do crânio e da barra de ferro que atingiu Phineas Gage
Estudos recentes, desenvolvidos pelos neurobiologistas portugueses Hanna e António Damásio, indicam que a maior parte dos danos sofridos por Gage incidiu sobre a região ventromedial dos lobos frontais, em ambos os lados, sem que a área cerebral responsável pela fala e funções motoras fosse afetada. Os cientistas, da Universidade de Iowa, empregaram técnicas de computação gráfica e de tomografia cerebral para avaliar a possível trajetória da barra de ferro, concluindo que as alterações de comportamento provavelmente decorreram da lesão. Observaram os pesquisadores que outros pacientes, com lesões semelhantes à de Gage, igualmente apresentaram déficits nos processos de decisão racional e no controle das emoções.
Reconstituição dos danos sofridos por Gage por computação gráfica
William K. Purves, David Sadava e Gordon H. Orians apontam que Gage passou o resto de sua existência como um desocupado, ganhando a vida contando a sua história, exibindo a barra de ferro e as suas cicatrizes. Ele morreu treze anos depois do acidente, pobre e epilético. Seu crânio, sua máscara mortuária e a barra de ferro estão em exibição no Museu da Faculdade de Medicina da Universidade de Havard.
Crânio de Phineas Gage
O terrível acidente que vitimou Phineas Gage permitiu à medicina constatar, em definitivo, que a personalidade do indivíduo reside no encéfalo. O acidente tornou-se um caso clássico nos livros de ensino de neurologia, já que, conforme pondera Sabbatini, a parte do cérebro afetada – os lobos frontais – passou a ser associada às funções mentais e emocionais que, no caso de Gage, ficaram alteradas. Ou, em síntese, como disse António Damásio,"Gage foi o início histórico dos estudos das bases biológicas do comportamento".
William K. Purves, David Sadava, Gordon H. Orians et al. : “Vida: a Ciência da Biologia”.
Jim Hiks et al. : “Para além da mente”, Col. “Mistérios do desconhecido”, Times-Life.
Cristina Marta Del-Ben: “Neurobiologia do transtorno de personalidade anti-social”, disponível em:http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-60832005000100004.
Famoso paciente H.M., Henry Gustav Molaison. Esse homem perdeu totalmente a capacidade de guardar novas memórias, ficando para sempre preso ao passado, em consequência de uma cirurgia experimental. Mas, os estudos envolvendo H.M., permitiram que a ciência descobrisse boa parte do que sabe a respeito da memória.
H.M. era uma criança normal até que aos 9 anos sofreu uma queda enquanto andava de bicicleta. O forte traumatismo craniano que sofrera deixou como sequela as constantes crises epilépticas, intratáveis com o uso das medicações convencionais. Essas crises pioraram ao longo de tempo, até que 1953 ele foi encaminhado para o neurocirurgião William Beecher Scoville.
Após alguns exames Scoville descobriu que a origem das epilepsias de H.M. era no lobo temporal medial do telencéfalo e sugeriu que esses lobos fossem retirados bilateralmente em uma cirurgia. No dia 1 de setembro de 1953 a cirurgia foi realizada. Na cirurgia foram retirados seus hipocampos, giros parahipocampal, as amígdalas e o córtex entorrinal.
Depois da cirurgia o paciente H.M., que ficou curado da epilepsia, passou a sofrer de graves problemas de memória. Ele lembrava-se de tudo que ocorrera em sua vida até seis meses antes da cirurgia, no entanto ficou incapacitado de guardar novas informações como memória de longa duração.
A partir desse fato, os cientistas ficaram curiosos a respeito dos mecanismos de armazenamento de informações no nosso sistema nervoso e resolveram iniciar estudos com o paciente H.M. Esses estudos foram importantes no que diz respeito à localização exata de áreas particulares do cérebro que estão ligadas aos processos específicos da formação da memória.
Dessa forma iniciou-se uma série de muitos estudos com o paciente H.M., mais de 100 cientistas o estudaram por mais de 55 anos. Tinha-se então um laboratório vivo, no qual era possível realizar experimentos para testar a formação de memórias. Umas das pessoas que mais realizou testes no paciente H.M, foi a neurocientista dra. Brenda Milner, que mesmo após anos de acompanhamento precisava se apresentar a cada nova visita ao paciente, pois este já havia esquecido de quem era a neurocientista.
H.M. teve de uma hora para outra a sua vida transformada. Antes da cirurgia era uma pessoa, como qualquer outra, independente, capaz de tomar suas próprias decisões. Após a cirurgia, como não conseguia mais formar novas memórias passou a ser extremamente dependente das pessoas, uma vez que nem ao menos conseguiria lembrar seu endereço, caso mudasse de casa. Assim a vida de H.M. restringia-se quase totalmente a sua função de cobaia em experimentos neurocientíficos.
Certa vez o ganhador do prêmio Nobel de Medicina, Eric Kandel, falou a respeito da importância dos estudos realizados com o paciente H.M.:“permanece como um dos maiores marcos da história da neurociência moderna, e proporcionou a base do conhecimento para tudo que veio depois: o estudo da memória humana e seus distúrbios”.
Mesmo após a sua morte, H.M. não deixou de ser cobaia. Assim que morreu, em 2008, iniciou-se, na Universidade de San Diego, na Califórnia, a análise do seu encéfalo, com o consentimento do próprio H.M. Durante um processo que durou ao todo 53 horas, mais de 2500 amostras histológicas foram obtidas para que se fossem feitas análises mais minuciosas a respeito da “anatomia da memória”.
por Charles W. Bryant - traduzido por HowStuffWorks Brasil Introdução
Imagine essa cena: você deitado na rede, cochilando, em uma tarde fresca de domingo, desfrutando da paz e do silêncio de sua utopia suburbana. Lentamente, sua mão esquerda relaxa, agarra seu pescoço e você desperta, encontrando sua própria mão presa na garganta com um golpe de kung-fu. Você tenta soltá-la com a outra mão, dedo por dedo, até que ela afrouxa um pouco e você fica lá, olhando para a mão que de uma hora para outra nem parece que é a sua. Embora pareça um filme de terror de segunda categoria, é realmente uma condição médica real e bastante estranha conhecida como "SMA" (síndrome da mão alienígena).
Lee Balterman/Getty Images
Nesse artigo, explicaremos exatamente o que é a síndrome da mão alienígena, verificaremos a função do cérebro neste caso e examinaremos como a cultura popular parece estar ligada a essa condição incomum.
O que é exatamente a síndrome da mão alienígena?É um distúrbio neurológico raro em que uma mão funciona involuntariamente, sendo que a vítima não percebe sua ação. Embora o exemplo acima possa parecer extremo, as pessoas que sofrem de SMA apresentaram sintomas semelhantes em determinados casos. Sintomas menos horripilantes incluem agarrar e apertar, tocar o rosto ou rasgar a roupa involuntariamente. Casos mais extremos envolvem encher a boca com comida, impedir que a mão normal faça tarefas simples e cutucar e estrangular a si mesmo. Embora seja vista mais como uma questão de transtorno do que uma ameaça médica, as pessoas que sofrem dessa síndrome geralmente têm problemas psicológicos e perturbações, além de, ocasionalmente, sofrerem lesões como resultado das ações do membro renegado.
Will McIntyre/Getty Images Até 1972, a síndrome da mão
alienígena não tinha sido claramente
definida pelos médicos
A SMA difere-se de outras condições de movimentos involuntários em que as ações do membro afetado têm um propósito e são orientadas. A mão afetada pegará um objeto e tentará usá-lo, ou realizará uma simples tarefa, como abotoar e desabotoar uma camisa. Os pacientes conservam todas as sensações na mão alienígena, mas geralmente mostram movimentos involuntários. Esses pacientes também podem apresentar comportamentos estranhos, como falar com a mão, alegar possessão demoníaca ou referir-se dela na terceira pessoa.
Também conhecida como mão desordenada, a SMA foi identificada pela primeira vez em 1909 e, desde então, houve apenas 40 a 50 casos registrados. Acredita-se que outras ocorrências tenham recebido o diagnóstico incorreto como parte de um distúrbio existente de saúde mental. A raridade e a natureza não ameaçadora da SMA levaram a pouquíssimas pesquisas e à falta de dados concretos, resultando em uma condição inteiramente misteriosa. Entretanto, recentemente, foram descobertos novos dados que ajudam a identificar a parte do cérebro que está ativo durante os episódios de SMA.
Na próxima seção, veremos a função do cérebro por trás da SMA.
Função do cérebro
Fotógrafo: CAUGHT@Winterling I
Agência: Dreamstime Muitas vítimas da síndrome chegam
a tomar medidas extremas para
garantir que sua mão fique parada
Para compreendermos algo sobre a síndrome da mão alienígena, aprenderemos primeiramente sobre o cérebro e como ele funciona. O cérebro humano é dividido em dois hemisférios, cada um com quatrolobos diferentes, todos funcionando juntos para criar, controlar e regular a fala, os movimentos, as emoções e um bilhão de outras subfunções. O lobo frontal é a seção responsável pelas habilidades motoras, como o movimento e a fala, e pelas funções cognitivas, como planejamento e organização, além de ser um bom lugar para se dar início à explicação da SMA [fonte: Mayo Clinic].
Vamos nos concentrar no planejamento e na organização. Suponhamos que você queira dar um golinho no seu café da manhã. O que parece uma tarefa simples é, na verdade, uma seqüência complexa de funções do cérebro, do momento em que você pensa "Humm, café", até ele encostar nos seus lábios.
Ao decidir dar um gole no café, o lobo frontal emite um sinal, planejando e organizando tudo que deve acontecer para que essa ação se complete. Você precisa alcançar a xícara, segurar a asa, levá-la à boca, beber e engolir e, então, colocar a xícara de volta e soltar a asa.
Esses sinais são enviados à região motora, área que vai do topo da cabeça à orelha e é responsável pelo controle de todos os movimentos do seu corpo.
O lobo frontal informa à região motora: "ei, preciso de um pouco de café, faça seu trabalho", e antes que você perceba, estará apreciando seu belo café da manhã. A chave para que isso aconteça é o envio correto das mensagens, graças ao corpo caloso [fonte: Mayo Clinic].
A lesão ao corpus collosum está no coração desse distúrbio raro
Pense no corpo caloso como o servidor de e-mails do cérebro, um grupo de nervos de envio de mensagens que se conecta e compartilha informações com os dois hemisférios. A síndrome da mão alienígena é o resultado da lesão desses nervos. Essa lesão ocorre com mais freqüência em pacientes com aneurismas (em inglês) cerebrais, derrame cerebral (em inglês) e naqueles com infecções no cérebro, mas também pode se manifestar como um efeito colateral de cirurgias, mais comumente após um procedimento radical que trate de casos extremos de epilepsia (em inglês). Quando o caloso sofre uma lesão, ele deixa diferentes seções do cérebro desconectadas e incapazes de se comunicarem - seu e-mail está permanentemente inativo. Com a SMA, uma mão funciona normalmente, realizando tarefas intencionais sem se comunicar com a outra mão, o que resulta em um membro que pode agir sozinho, às vezes, opondo-se ao lado que funciona.
Curiosidades médicas misteriosas
Foram feitas pouquíssimas pesquisas ao longo dos anos devido à raridade de casos, mas um estudo feito por uma equipe de médicos suíços, em julho de 2007, deu uma nova luz à SMA. Os médicos realizaram testes de ressonância magnética funcional em uma vítima da SMA para determinar quais seções do cérebro mostrariam atividade durante os movimentos planejados e não planejados. Eles descobriram que os movimentos planejados originavam-se no lobo frontal antes de serem enviados à região motora, enquanto os movimentos estranhos não mostraram nenhuma atividade no lobo frontal - eles partiam da própria região motora. Além disso, o sinal permanecia na região motora sem enviar uma mensagem de volta ao lobo frontal, fazendo com que as vítimas não percebessem seus próprios movimentos. Embora a região motora tenha sido, finalmente, escolhida como o centro da atividade, ainda não se sabe o que ativa os sinais, deixando a condição como uma curiosidade médica misteriosa.
Na próxima seção, veremos a cultura popular e como a síndrome da mão alienígena, apesar de seus raros diagnósticos, geralmente tem sido retratada nos livros, TV e filmes.
A síndrome da mão alienígena na cultura popular
Existem aproximadamente apenas cinqüenta casos relatados de síndrome da mão alienígena. O que surpreende é que o mundo literário e Hollywood por muito tempo falaram dessa condição, geralmente mudando a causa de uma lesão banal no cérebro ao cenário mais dramático de substituição do membro do doador maluco. A quantidade de casos fictícios de SMA é praticamente a mesma que a de casos reais. Isso pode ter a ver com a qualidade fascinante da condição, com o mistério que a cerca ou talvez, simplesmente, com o nome de ficção científica e a natureza fantasmagórica.
A SMA teve sua primeira grande aparição nas telas em 1935, no filme "Mad Love". A história trata de um médico obcecado que substituiu as mãos do marido de uma suposta amante pelas mãos de um assassino. Às vezes, a mão não é presa a nenhum corpo, como a mão assassina no filme de terror de segunda categoria de Oliver Stone, em 1981, "The Hand". A mão da "Família Addams" foi um meio de humor, em vez de traição. Ray Bradbury escreveu sobre a SMA em seu conto "Fever Dream", assim como fez Clive Barker em "The Body Politic". Ela foi retratada desde programas de TV como "Angel" e "Os Simpsons" até o videogame doméstico "Metal Gear Solid".
Entretanto, sua aparição mais famosa foi, sem dúvida, na obra-prima de 1964 de Stanley Kubrick, "Dr. Strangelove". Nesse filme, Peter Sellers, preso a uma cadeira de rodas como o Dr Strangelove, perde com freqüência o controle de seu braço direito, que por várias vezes tenta cumprimentar Nazi Party antes de ser segurado pela mão esquerda. A luta engraçada de Sellers contra a síndrome da mão alienígena tornou-se um dos momentos clássicos na história do cinema, e a própria SMA geralmente é citada como a "síndrome do Dr Strangelove".
Silver Screen Collection/Getty Images Peter Sellers foi indicado ao Oscar por seu
trabalho cômico no filme "Dr Strangelove", de 1965
Independente da pouca quantidade de casos de síndrome da mão alienígena, ou do nosso pouco conhecimento sobre sua causa, o mistério e a intriga da condição, sem dúvida, continuarão inspirando escritores e produtores a explorarem seu potencial cômico e horripilante.
Existe cura?
Não existe nenhuma cura para a síndrome da mão alienígena, exceto, alguns tratamentos práticos. A pessoa aflita geralmente mantém a mão "ocupada" dando-lhe um objeto para segurar, embora alguns pacientes tenham ido mais longe e chegaram a usar luvas de forno ou a amarrar a mão perigosa atrás das costas. Embora não haja cura, foi relatado que pode ocorrer a recuperação gradual quando apenas um hemisfério do cérebro sofreu a lesão.
Prosopagnosia é a perturbação da capacidade de reconhecer rostos ou faces. Em inglês também se usa o termo “face blindness” que, literalmente, significa cegueira para rostos. A prosopagnosia é frequentemente acompanhada por outros tipos de perturbações de reconhecimento (como reconhecimento de lugares, carros, expressões faciais de emoção, etc.), ainda que, por vezes, o défice se restrinja ao reconhecimento da identidade de alguém, a partir do seu rosto. Deste modo, a prosopagnosia pode ser socialmente incapacitante. As pessoas com prosopagnosia têm muitas vezes dificuldades em reconhecer os seus familiares, amigos próximos, e mesmo elas próprias. Frequentemente, usam formas alternativas para reconhecerem pessoas, mas essas formas não são tão eficazes como reconhecer alguém através do seu rosto.
História
Existem relatos de casos de prosopagnosia desde a antiguidade, mas foi um relato de Bodamer (1947) sobre dois indivíduos que se tornou um marco nesta área. O autor descreveu amplamente os seus sintomas, que afirmou serem diferentes da agnosia. Ele referiu-se à sua condição como prosopagnosia, que advém da combinação da palavra grega para rosto (prosopon) com o termo médico para perturbações do reconhecimento (agnosia). Desde essa altura, mais de uma centena de casos foram publicados.
Sintomas de Prosopagnosia
Toda a gente tem, às vezes, problemas em reconhecer rostos, e ainda é mais comum haver dificuldades em lembrar nomes de outras pessoas. A prosopagnosia é muito mais severa do que estes problemas que toda a gente pode ter no seu dia-a-dia. As pessoas com prosopagnosia têm frequentemente dificuldades em reconhecer pessoas que já encontraram muitas vezes. Em casos extremos, têm mesmo dificuldades em reconhecer as pessoas com quem passam a maior parte do tempo, como os seus companheiros ou os seus filhos.
Um dos sinais cruciais da prosopagnosia é uma maior dependência na informação não-facial, como o cabelo, o modo de andar, a roupa, a voz ou outras informações. As pessoas com prosopagnosia têm por vezes dificuldades em imaginar como é a cara dos seus conhecidos. Uma das queixas mais frequentes é a existência de problemas em acompanhar programas de televisão ou filmes, porque não conseguem seguir a identidade das personagens.
Causas de Prosopagnosia
A maior parte dos casos documentados de prosopagnosia diz respeito a situações em que a perturbação resultou de lesões cerebrais já na maturidade, devidas a traumatismo cranioencefálico, acidentes vasculares ou doenças degenerativas. Estes são exemplos de prosopagnosia adquirida – esses indivíduos tinham capacidades normais no reconhecimento de rostos que foram afectadas. É provável que mais casos de prosopagnosia adquirida tenham sido publicados devido a duas razões. Primeiro, estas pessoas notam obviamente as suas dificuldades, uma vez que reconheciam normalmente os rostos no passado, e rapidamente se apercebem do seu défice. Segundo, uma vez que estas pessoas sofreram lesão cerebral, elas estão em contacto com médicos que avaliaram as suas capacidades quanto ao reconhecimento de rostos. (Por favor, se você experimentou um notável declínio na sua capacidade em reconhecer rostos, deve contactar um neurologista imediatamente. Um declínio rápido pode indicar a presença de uma condição que merece atenção imediata.)
Pelo contrário, nos casos de prosopagnosia desenvolvimental, o começo da prosopagnosia foi anterior ao crescimento da capacidade normal de reconhecer rostos (os níveis adultos da capacidade de reconhecer rostos são atingidos durante a adolescência). O conceito de prosopagnosia desenvolvimental tem sido usado para se referir a indivíduos cuja prosopagnosia tem natureza genética, a indivíduos que sofreram lesão cerebral antes de terem experiência com rostos (lesões cerebrais pré-natais ou perinatais), e a indivíduos que sofreram lesões cerebrais ou problemas visuais graves durante a infância. Contudo, estas etiologias deveriam ser diferenciadas, uma vez que há várias causas que podem levar à prosopagnosia que, provavelmente, convergem em tipos de défice diferentes. Deste modo, as referidas etiologias poderiam ser antes consideradas como prosopagnosia genética, prosopagnosia pré-experiencial e prosopagnosia pós-experiencial, respectivamente. Em alguns casos, pode ser difícil determinar a causa da prosopagnosia, mas muitas vezes as pessoas sabem se têm familiares com a mesma perturbação, ou sabem de potenciais incidentes que possam ter resultado em lesão cerebral.
Muitas vezes, os indivíduos com prosopagnosia desenvolvimental não se apercebem que não reconhecem tão bem rostos como os outros indivíduos. Uma vez que nunca reconheceram rostos normalmente, o seu défice não é evidente para eles próprios. É também difícil para eles se aperceberem da sua perturbação, uma vez que os indivíduos com normal capacidade para reconhecerem rostos raramente discutem a sua dependência nos rostos para reconhecer alguém. Consequentemente, há muitas pessoas que não se aperceberam da sua prosopagnosia até à idade adulta. Temos sido contactados por mais pessoas com prosopagnosia desenvolvimental do que adquirida, sendo então possível que a primeira condição seja mais comum do que a segunda.
Explicações
São várias as explicações para a prosopagnosia. Todas elas sugerem claramente que os procedimentos necessários para o normal reconhecimento de rostos não funcionam do mesmo modo. Contudo, estas explicações diferem na caracterização dos processos que estão perturbados. O conceito de prosopagnosia parece referir-se efectivamente a diferentes tipos de défice, pelo que nenhuma explicação poderá ser suficiente para todos os casos.
Questões para investigação
O conhecimento sobre a prosopagnosia é actualmente ainda muito limitado, e por isso há muitas questões que necessitam de ser investigadas. Algumas das questões mais relevantes são:
Qual é a natureza dos procedimentos que estão modificados na prosopagnosia?
Que regiões cerebrais estão afectadas na prosopagnosia?
Quais os genes envolvidos na prosopagnosia de base genética?
Existem métodos pelos quais as pessoas com prosopagnosia possam melhorar o reconhecimento de rostos?
Existem métodos pelos quais as pessoas com prosopagnosia possam aprender a reconhecer os outros por meio de informação não-facial?
Qual é a prevalência da prosopagnosia?
Procuram-se participantes em investigação
A principal razão pela qual existe um tão reduzido conhecimento acerca da prosopagnosia é que poucos casos foram extensamente investigados. Isto é especialmente verdade para prosopagnosia desenvolvimental. Recentemente, contudo, a internet tornou muito mais fácil o contacto entre pessoas com prosopagnosia e investigadores, e por isso parece provável que haja um aumento da investigação nesta área, num futuro próximo.
Se você acha que tem prosopagnosia ou que tem outros tipos de perturbações de reconhecimento e se estiver interessado em aderir à investigação, por favor contacte-nos, usando o nosso formulário. Nós tentaremos inseri-lo em estudos que estejam a decorrer, ou podemos pô-lo em contacto com investigadores na sua área de residência. Os estudos abrangem habitualmente avaliações de três a quatro horas.
Além de fornecer dados muito importantes para a investigação em prosopagnosia, as pessoas com prosopagnosia costumam achar que ganham um maior conhecimento sobre a sua condição quando são testadas. Por exemplo, nós avaliamos capacidades de reconhecimento com variados tipos de objectos (cavalos, flores, carros, etc.), e testamos outros tipos de capacidades de processamento de rostos
(reconhecimento de expressões de emoção; determinação do sexo, da idade e do grau de atracção através do rosto; determinação da direcção do olhar). Estas capacidades são frequentemente difíceis de auto-avaliar e o conhecimento das próprias dificuldades pode ajudar os indivíduos a cooperar melhor face à sua perturbação.